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Dramaturgia, Dança e Teologia: Os contributos de Kevin Vanhoozer para uma possível Teologia da Dança

Por Helen Lanhellas


Fotografia: Após a apresentação da performance dramatúrgica em dança.

Fonte: Arquivo pessoal de Helen Lanhellas.


Porque nele nos movemos

Paulo, em Atenas


Dramaturgia é uma prática das áreas do Teatro e da Literatura. A área da Dança empresta o termo para suas produções[1]. Embora, o uso de Dramaturgia se desenvolveu de maneira diferente em cada época na História da Dança, como: Dramaturgia no Ballet Clássico, na Dança Moderna e na Dança Contemporânea.


Contudo, o presente artigo busca apontar para os contributos da obra “O Drama da Doutrina” do Teólogo Kevin Vanhoozer, para se pensar e criar dança com um olhar teológico, ou seja, uma possível Teologia da Dança. Isso se constitui num “fazer-pensar” ou “pensar-fazer” para o artista cristão da dança, e um exercício de diálogo para todo o Corpo de Cristo vivenciar essa arte no seu dia-a-dia.


Linguagem

A obra de Kevin Vanhoozer possibilita ao artista cristão, especificamente, no caso deste artigo, ao artista cristão da dança, a aprender algo importantíssimo para cada tempo o qual a Igreja de Cristo está inserida: a tradução. Como podemos e devemos viver nossas vidas para a glória de Deus. Vanhoozer utiliza o termo “performance” para comunicar como a Igreja de Cristo deve se mover no tempo atual.


Como nos movemos no mundo tem tudo haver com dança. Como os atos de fala de Deus moveram a Seu Povo, a Igreja de Cristo na Terra até hoje? Como Deus se moveu com Suas entradas e exôdos na história da humanidade?


A dramaturgia é uma linguagem da arte, entrelaçada por Kevin Vanhoozer com maestria, para nos fazer compreender melhor, na linguagem do nosso tempo, como viver as Escrituras Coram Deo, ou seja, diante de Deus.


Também como naturalmente nossas vidas exalarão o aroma suave de Cristo, pela forma que nos movemos no mundo. E fazemos isso por meio de nosso corpo. Antes pensar teologia da dança, precisamos como Igreja refletir sobre uma teologia do corpo.


Nós não precisamos embasar argumentos para dançar a partir de falas como: “Eu danço porque Davi ou Miriã dançou”. O que precisamos fazer é deixar nossa perspectiva ser transformada pelo SENHOR, e dizermos: “Eu danço porque O Espírito de Deus se move em mim”.


Por que nós, brasileiros, quando nos convertemos deixamos de dançar? No culto, no louvor, muitos enrijecem o corpo e, mesmo quando batem palmas é como se fosse uma ação mecânica.


Não estou aqui dizendo que todos devem dançar e se mover na hora do louvor, trazemos aqui algumas reflexões sobre o tema corpo e dança. E há também em nosso cotidiano, a dança não faz parte dos momentos de celebração, seja em casa ou outro lugar.


Corpo antes da Dança

No contexto histórico da dança, sempre ocorreu a conexão com o mundo espiritual (transcendente) por meio do corpo. O corpo está nessa intersecção entre o material, nosso mundo visível e o mundo invisível.


Esse artigo visa desenvolver também esse diálogo em torno do que seria uma teologia da dança. E inspirar os cristãos, (artistas ou não), a todo o Corpo de Cristo, de que a dança tem seu valor como forma de celebrar a vida que Deus nos deu, que antes de dançarmos precisamos como Igreja abrir diálogos quanto ao assunto que antecede a dança: o corpo.


Ainda parece um tabu em nosso meio dialoga sobre o corpo. Nós andamos, nos movemos ao serviço na Igreja, aos casados uma vida íntima de ser um só é vivenciada, nos comunicamos uns com outros por meio do corpo que Deus nos deu, ele é tempo da Presença de Deus em nós, e, no entanto, ainda é um assunto distante em nosso meio. Consequentemente a dança está mais distante.


As conexões e entrelaçamentos

O interessante, continuando a falar do contributo que Kevin Vanhoozer propõe em sua obra, algo semelhante que Francis Schaeffer, disse sobre a Igreja comunicar o Evangelho em cada tempo: sobre o desafio de todo cristão de compreender a linguagem do seu tempo para comunicar o Evangelho à geração o qual está inserido.


Timothy Keller[2] aborda a importância dos cristãos de buscar compreender a linguagem de determinado povo para comunicarmos o Evangelho de Cristo Jesus na “linguagem do coração” daquele que ouvirá. Essa atitude nos lembra do apóstolo Paulo, em Atos dos Apóstolos, capítulo 17, quando ele observou a cultura local, e depois comunicou as boas novas do Evangelho de Cristo Jesus para aquele povo.


Parece que estamos falando de dois pontos diferentes, mas ambos estão em contato. Vanhoozer aborda a importância da Doutrina para os cristãos vivê-la, a Palavra de Deus na prática, de maneira viva. Por meio de viver o Evangelho, ele seja comunicado aos que não conhecem Jesus Cristo. Para isso, ele se utiliza da linguagem da arte: A dramaturgia, para comunicar a Igreja, a nós, essa importância. Usando palavras como “encenação”, improviso”, “roteiro”, “atos de fala de Deus” entre tantas metáforas.


O autor busca inspirar a Igreja a compreensão de que nós fazemos parte de algo maior: nossas histórias de vida estão inseridas na grande História de Deus. O “encenar” ou “performar” é a vivência (sem falsidade de representação), mas sim, uma “encenação” que demonstra naturalmente para quem não é cristão, quem nós somos em Cristo Jesus.


Nesse abraço gentil e cuidadoso que a leitura da obra “O Drama da Doutrina” nos proporciona, percebemos o quão importante é a Doutrina e que faz parte de nossas vidas cristãs debaixo do Sol. Nos inspirando a “performar” a verdade para com quem não conhece Jesus Cristo. Na jornada debaixo do Sol de todo cristão, às vezes temos que “improvisar” “atos de fala”, conhecendo dia após dia o “roteiro” que Deus vai nos direcionando. A linguagem do tempo o qual estamos se utiliza de todas essas palavras em aspas que foram escritas até agora, e há mais.


O contributo da obra de Kevin Vanhoozer para a Igreja de Cristo, se estende aos artistas cristãos também. Pois, observou-se a relação com os atos de Paulo em Atenas, quando este após observar a cultura local comunica o Evangelho ali. Assim como os profetas performaram em seus próprios corpos o que Deus queria comunicar:


A tarefa de interpretar a história de Israel em termos teodramáticos coube pela primeira vez aos profetas. Às vezes, eles proclamavam; em outros momentos, encenavam miligramas da relação de Deus com Israel, peças dentro de peças... Isaías vestiu-se de escravo por três anos, a fim de avisar o Egito de seu cativeiro. Jeremias colocou sobre o pescoço um jugo para proclamar a necessidade de submissão de Judá à Babilônia. (DULCI, Pedro apud VANHOOZER, Kevin, 2020)

Desse modo, os artistas cristãos podem exercitar a exegese cultural da sua área de atuação para comunicar o Evangelho. Para isso, tem-se observado nesse artigo que antes de pensar uma Teologia da Dança é importante a exegese cultural, que se trata de "estudar" a cultura a fim de entender o que ela tem a nos dizer" (FERNANDEZ, 2018).


Considerações Finais

Por isso, observamos que Kevin Vanhoozer produz semelhante relação quando dialoga a Teologia com a linguagem da arte: A dramaturgia. Pois, convida a Igreja de Cristo a se posicionar com a missão que lhe foi dada, com a linguagem que falará ao coração de pessoas desse tempo.


Esse é o desafio da Igreja, de todo cristão de épocas diferentes. Por isso, artistas de dança tem também o desafio de propor dramaturgias da dança que envolvam as Escrituras como foco balizador de suas produções artísticas, configurando-se em artefatos culturais que apontem para Cristo com respostas a todo o drama humano.


O convite se estende a todos os cristãos, ao Corpo de Cristo, para exercitarmos com um coração sensível e atento às questões, valores que são produzidos na dança. Pois, como toda arte, carrega valores e crenças, uma comunicação elaborada e desenvolvida no corpo, tornando o invisível visível.


Por isso, esse artigo convida os cristãos, artistas da dança ou não. De que toda dor humana debaixo do Sol, tem respostas em Cristo Jesus. Fazendo aqui um trocadilho com a palavra dramaturgia: que o Drama da Doutrina que está proposto a nós, nos inspire a unir a ação (drama) e liturgia (turgia) que precisamos para viver nossas vidas para Cristo. "Porque nele nos vivemos, nos movemos, e existimos" (Paulo de Tarso - Atos dos Apóstolos)



Notas: [1] Petícia Carvalho compartilha em seu canal no YouTube “Dança para além da técnica”, sobre como o termo e conceito Dramaturgia foram desenvolvidos, antes de ser usado na área da Dança. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=52qk8F6N4dA.

[2] Reels sobre a importância de comunicar o Evangelho aprendendo a “linguagem do coração”. Disponível em: <https://www.instagram.com/reel/CjV9IqcDfK9/?utm_source=ig_web_copy_link>.


- Artigo acadêmico produzido no mês de janeiro de 2023, no Programa de Tutoria Avançada, no Instituto Educacional Invisible College.


- Nesse post, compartilho com você meu segundo artigo acadêmico, na jornada em desenvolver diálogos entre Teologia e Dança. Espero que abençoe sua vida, até mais! :)


Referências bibliográficas

BEHRNDT, Synne K. Dance, dramaturgy and dramaturgical thinking. Publicado em 09 jun 2010. Disponível em: https://nyuskirball.org/wp-content/uploads/2018/04/Dance-Dramaturgy-and-Dramaturgical-Thinking-by-Synne-K.-Behrndt.pdf


CARVALHO, Peticia. Dramaturgia em dança. Canal do YouTube “Dança Além da Técnica”. Publicado em 14 de janeiro de 2021. 1 vídeo (9:43). Acesso em: 31 jan 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=52qk8F6N4dA.


FERNANDEZ, Kaiky. Uma introdução à exegese cultural. Publicado em 11 de abril de 2018. Coletico Tangente. Disponível em: <https://medium.com/coletivotangente/uma-introdu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-exegese-cultural-be3ec19af41>.


KELLER, Timothy. Redeemer City to City. Reels. Publicado em 05 de outubro de 2022. Disponível em: <https://www.instagram.com/reel/CjV9IqcDfK9/?utm_source=ig_web_copy_link>.


GATEWAY, Bible. Atos 17. Almeida Revista e Corrigida 2009. Disponível em: <https://www.biblegateway.com/passage/?search=Atos%2017%3A15-34&version=ARC>. Acesso em: 05 jan 2023.


VANHOOZER, Kevin. O Drama da Doutrina: uma abordagem canônico-linguística da teologia cristã. Tradução de Daniel de Oliveira. Edição. Editora Vida Nova, São Paulo, 2016.


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