top of page

O que diz J.R.R.Tolkien sobre a morte?

Por Helen Lanhellas

Imagem: J.R.R. Tolkien


John Ronald Reuel Tolkien, mais conhecido como J.R.R.Tolkien, foi escritor, professor universitário e filólogo.


Suas obras mais conhecidas são O Senhor dos Anéis e O Hobbit, ambas se tornaram filmes com mesmo título.


Ele escreveu também O Silmarillion, obra rica em detalhes (que focarei um ponto dela - que dá título ao post), onde ele relata com maestria e profundidade incrível, a criação de todo o universo que construiu a base para suas obras posteriores, que foram muitas, duas delas citei no parágrafo anterior.


-------------------------



No mundo criado por J.R.R. Tolkien, na obra O Silmarilion, Arda - Terra - foi criada por Ilúvatar - O Criador - ao som de música, que não podia ser descrita, somente percebida.


Os humanos eram chamados de Atani e foram a segunda raça criada, e nasceram sob a luz do Sol, porque para Ilúvatar a luz do Sol traz vida aos Atani.




“Mas aos Atani (humanos) darei um novo dom”.

Ilúvatar – O Silmarillion


Os Quendi (imortais), foram a primeira raça criada, eles nasceram sob a luz das estrelas. Em Arda existiam os Anões, os Hobbits, os Elfos e os Humanos, entre outros povos.


Aos Atani (humanos) Ilúvatar deu um novo dom: o Dom da morte; e Ele plantou em seus corações a eternidade, para que buscassem conhecimentos das obras criadas e para além delas, não descansando.


"ao homem foi dado um coração para a eternidade e uma vontade de conhecer as obras criadas sem que seu coração possa descobri-las desde seu princípio até ao fim".

Eclesiastes 3: 11.


Por que o professor J.R.R. Tolkien escolheu chamar a morte de Dom? Sem dúvida a morte é conhecida como a destruição dos humanos. Tolkien dizia que a morte podia ser "Gift" - Dom e/ou "Doom" - destruição dos humanos.


Parece estranho olharmos por essa perspectiva da morte como Dom, o que nós temos de mais precioso é a mortalidade, mas é exatamente isso que Tolkien quis mostrar em sua obra O Silmarillion, que os outros povos que não tinham este Dom, viam beleza nos humanos. Beleza na sua mortalidade.


Tolkien quis compartilhar que o Dom da mortalidade tem propósito, dá significado e sentido à vida.


"Se esmere por buscar conhecimentos que de fato te levarão a verdade,

e com isso a vida revela seu valor, importância e significado".


Explicação de Salmos capítulo 90,

versículo 12.


Porque sendo finitos, os humanos tinham a virtude de moldar suas vidas, eles lutavam, amavam, criaram filhos, trabalhavam, envelheciam e morriam. Então para os outros povos, os humanos tinham uma chance maior para viver a vida mais intensamente, pelo fato de que ela é finita.


"É dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho".

Eclesiastes 3: 13.

Imagem 2*: Os Elfos; nasceram sob as luz das estrelas em Arda.


Tolkien via na mortalidade um dom, uma benção também, pois através disso os humanos descansam, "escapando do mundo e servindo ao Criador de outro jeito, recebendo Dele grande galardão" (Sterling, 1997).


A brevidade da vida deve encorajar às aventuras, e Tolkien escreveu que os humanos perceberiam no decorrer de suas vidas que nada foi feito sem propósito por Illúvatar. “Os humanos tem dons estranhos”, disse Tolkien.


Em sua obra, Tolkien compartilha que no início alguns humanos, por terem guerreado ao lado dos imortais, receberam a dádiva da longevidade, vivendo

três vezes mais que os humanos naturais, sendo que eles deviam permanecer mortais.


Estes desejaram a imortalidade dos Válar, velejando para as terras imortais, querendo conquistá-las. E essa cobiça, e desrespeito aos Válar resultou na destruição da ilha de Númenor, e a dádiva da longevidade foi retirada dos humanos.


A mortalidade, segundo Tolkien, podia ser maldição também caso os humanos não a aceitassem como Dom, e essa não aceitação fez alguns humanos cometerem crimes terríveis. "E alguns se tornaram espectros do mal, a serviço de Sauron", diz IZOTON 2019.


Tolkien escreveu que os humanos desejaram a imortalidade dos Válar. O que eles não entendiam é que a imortalidade estava na pessoa dos imortais, não na terra.


A imortalidade tinha um preço alto a ser pago, que somente os imortais compreendiam. Ou seja, ser imortal tinha seu peso e ao mesmo tempo seu belo propósito. Assim como, de forma diferente, SER humano tem seu belo propósito.


Chamar a morte de Dom não era fachada para Tolkien, mas era trazer à tona um genuíno entendimento da condição humana.


Na visão do professor todos tinham o seu tempo. Quando este tempo era exaustivo, o indivíduo podia não encontrar alegria na vida ou no mundo e continuar a existir tornando a vida um fardo.


Tolkien demonstra em sua obra que no fim, os humanos que compreenderam e aceitaram o Dom, se dominaram nas cobiças, e foram guiados por grande contentamento e sabedoria, guerrearam pelo bem de Arda, varrendo o mal dela, e por fim iniciaram a era dos humanos, com Aragorn, o Rei da Quarta Era, com verdade e humildade, ele aceitou o Dom da mortalidade como um fim natural de sua vida, ele morreu com mais de 200 anos de idade.


Há beleza na nossa finitude, na mortalidade da humanidade.


Como vivemos a vida que nos foi dada?


Vivamos por coisas maiores!




Referências:


BÍBLIA SAGRADA. Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil. Barueri, São Paulo.


IZOTON, Caique. A origem das raças da Teraa Média | Elfos, Anões e Homens. Canal Caique Izoton. Link: https://www.youtube.com/watch?v=37BPSPNLBPA. Ano 2019.


STERLING, Grant C. The Gift of Death: Tolkien's philosophy of mortality. Traducão livre: O Dom da Morte: Filosofia de Tolkien sobre a Mortalidade. Jornal de J.R.R.Tolkien, C.S.Lewis, Charles Williams, e Literatura mitopoeica, 1997.


TOLKIEN, J.R.R. O Silmarilion. Trecho.



Comments


bottom of page