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Sabedoria hebraica e o corpo na dança: Ensaiando novos passos


Imagem: Anastasia Shuraeva no Pexels


Por Helen Lanhellas


Introdução

Em quê ou em quem o artista cristão bailarino(a) tem se apoiado? Qual sabedoria o(a) apoia? Existe a palavra sabedoria no vocabulário da dança?


O apoio é um dos tópicos corporais que o(a) bailarino(a) usa em movimentos de dança, e será a analogia que construiremos para falar do suporte para além do corpo e que influencia neste: a Sabedoria. Ela não é mencionada no meio das artes. Entre os bailarinos, não ouço sobre ela. A proposta é trazer o apoio da sabedoria hebraica como base fundamental na compreensão do corpo na dança. Apresentarei respostas para as afirmações apóstatas do campo da Educação Somática, apontando uma introdução para a epistemologia cristã, termo proposto por Igor Miguel (2021).


Sábio artista

Nos últimos quarenta anos, a Dança tem se apoiado no campo de conhecimento chamado Educação Somática com vários métodos com uma base em comum. Com filosofia baseada no empirismo radical, com forte influência hinduísta, a pele é a representatividade daquilo que é experienciado, ou seja, a experiência é a única forma de obter conhecimento. Contudo, para afirmar tal frase, é gerado reducionismo, causando injustiça, conforme está em Romanos 1: 18 – 25:


Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. (...)

Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.

Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.

E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível. (...) Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;

Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. (Romanos 1:18-25)


O empirismo radical baseia-se na experiência como única forma de se obter conhecimento, mas podemos perceber a Sabedoria hebraica aponta variadas e criativas formas de se obter conhecimento também: a lógica, faculdade cognitivas, por exemplo, o Sensus Divinitatis, há também a introspecção, o racional, e mais! É maravilhoso esse prisma incrível de se obter conhecimentos de várias formas; um olhar para a vida onde não há somente uma forma de se obter conhecimento, porque se há a afirmação de apenas uma forma de obter conhecimento, isso gera reducionismo e exclusão das diferentes formas criativas de também obtê-lo.


Se há a afirmação que somente por meio da experiência podemos adquirir conhecimento, então essa afirmação não é tirada da experiência, ela também não é deduzida da lógica, portanto essa frase não seria conhecimento, então o edifício do empirismo radical se autodestruiria.


Na sabedoria hebraica, José Vílchez Líndez (1999, p. 38 a 40) expressa que os artistas eram chamados de sábios pela sua destreza, habilidade e perícia em produzir artefatos, manualidades. Pedro Dulci (2022) diz que a estes que lhe foi dada esta sabedoria alguns a usaram para esculpir ídolos e artefatos culturais que em nada glorificaram a Deus. Além disso, se os artistas têm habilidades, perícia naquilo que fazem, é porque o Criador concedeu a eles. Alguns não a usam apontando para Ele, e friso a importância de sermos responsivos com o que Deus tem nos dado para ser e fazer. Esta é a primeira resposta.


A segunda resposta: A sabedoria hebraica nos revela que não há uma única forma de se obter conhecimento. José Vilchez Líndez (1999, p. 30 a 36) escreveu sobre as múltiplas fontes de sabedoria que Israel se apoiava: por meio de história oral, leitura, experiência, tradição, lar, reflexão, entre muitas outras.


Logo, compreender a vida por meio da sabedoria hebraica influencia na cosmovisão do corpo e no processo criativo em dança. No ensino da mesma e na composição de narrativas propositivas de respostas às questões de nosso tempo.


Sofisma somático

“O conhecimento somático é ‘o conhecimento sensível de si que se desenvolve conduzindo a uma consciência que permite estabelecer relacionamentos mais significativos com o mundo’” (HESHUSIUS apud FORTIN e LONG, 2005, p. 7). É pretensioso afirmar que é a partir da Educação Somática que os indivíduos se relacionarão de maneira mais significativa. O pressuposto do valor de relacionamentos significativos está no próprio Deus que se relaciona com as pessoas. É a partir do relacionamento com Deus que nossas relações com os outros florescerão com valor, beleza e significado. Se nos relacionamos uns com os outros é porque há O Deus Criador que se relaciona com o ser humano de maneira pessoal.


“Investigações somáticas foram encorajadas pelo crescimento do existencialismo e da fenomenologia, como também pela dança e o expressionismo” (EDDY, 2018, p. 28). Essas são algumas das bases da concepção antropológica e filosófica da pedagogia somática, que gera um ensino apóstata sobre esta arte do corpo. O indivíduo busca uma visão imanente de si, influenciado pela proposta de desconstrução do corpo e do que é a dança, com a visão de mundo pós-estruturalista.


O campo da educação somática utiliza um dos princípios bíblicos: o descanso, para desacelerar e desenvolver a percepção de si, do outro e do mundo, direcionando para fora de Deus uma proposta falsa de autonomia e liberdade. A terceira resposta: Perceber a si, o outro e o mundo são práticas de uma vida saudável biblicamente, de um relacionamento enraizado em Deus, na Sua Palavra, na Oração, as disciplinas espirituais. Podemos nos apoiar em Gênesis 2:1 – 3, 1 Pedro 5:7 e Salmos 116:7, entre tantas passagens na Bíblia sobre o descanso.


Por isso há sofismas no campo somático, pois propositalmente não reconhecem que não está em nós, na imanência, a cura ou qualquer outra direção que este campo sugere. Antes, tais características e respostas se encontram em Deus, mas o campo somático se afasta porque recusa estas respostas, buscando-as apenas em si mesmos, e isso não é suficiente. Precisamos viver por algo para além de nós.


É somente pela Revelação de Deus ao ser humano é que conhecemos a nós mesmos, ao outro, a Ele - O Criador e sua criação. Os tesouros do conhecimento estão em Jesus Cristo, a Sabedoria Revelada de Deus aos humanos (Colossenses 2: 3-4). Ele é nosso apoio seja nas artes e nas demais áreas do conhecimento. Se temos ciência, arte, educação, entre tantas áreas de conhecimento é porque Deus plantou no coração humano a vontade de buscar a Ele, também por meio do conhecimento das coisas criadas.


O Criador do movimento

A filosofia naturalista e a teleologia niilista deste campo têm gerado a ideia de desconstruir o conceito do que é dança a partir de algumas propostas, uma delas é o não-uso da música como suporte de criação de movimento, a não valorização de técnicas de dança. Embora se utilize em algumas aulas de práticas somáticas, o som da conga, instrumento de percussão, por exemplo, e pesquisas em técnicas de dança estejam sendo aplicadas para o desenvolvimento da percepção do bailarino e professor de dança aprimorar a forma de fazer a técnica.


Quanto a estas pesquisas, observa-se que não se baseiam somente no empirismo radical, e sim no que a sabedoria hebraica propõe, (para além do campo somático), que são os conhecimentos adquiridos por diferentes formas: a pesquisa em textos, ouvir pessoas e suas histórias de vida, estudar a técnica de dança, a própria introspecção do pesquisador e artista em sua pesquisa, estas são algumas.


Quando não há música nas aulas de prática somática, o ritmo deve ser algo orgânico, ou seja, o indivíduo deve ouvir seus órgãos internos. A ideia é que o indivíduo seja sensível e crítico, questionando tudo, mas ao que se observa em discursos somáticos, é somente questionar sem querer respostas, muitas vezes percebe-se a nítida ideia do niilismo como teleologia. O nada é uma das proposta (niilista) da educação somática.


Onde o nada é almejado para quem vivencia as práticas somáticas e seus pressupostos, criando uma dança que não sai do processo experimental, permanece inerte, flutua no nada, sem rumo, sem narrativa. Em determinados momentos, palavras e entonação de voz, se intensificam como se caminhasse ao êxtase, tornando em adoração ao próprio movimento, um culto a própria imanência. O que lembra-me de Romanos 1:22: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”.


O Criador do movimento (Gênesis 1) é que deve ser louvado. O movimento não começa no homem e termina nele, imanência pela imanência. O movimento no qual devemos nos apoiar enquanto artistas inicia em Deus, chega até nós e termina Nele. Somos feitos por Deus. Logo, sua imago Dei se reflete em nós pelo profundo fato de sermos sua criação.


A comunicação parte de um pensamento, uma ideia gerada no coração, o movimento em dança não é diferente. Ele parte das crenças básicas que há no coração humano. O filósofo Herman Dooyeweerd escreveu que o coração é o dispositivo religioso do qual partem as ideias e destas as ações.


Desta forma, se há pensamento, existe comunicação e por conseguinte, a criação do movimento em dança, porque a eternidade foi plantada em mim, gerando o movimento criado. Essa é a quarta e última resposta a respeito do campo somático. Este campo se utiliza de atos aparentes de mansidão, mas pesquisando as ideias filosóficas percebe-se a ideia apóstata, uma rebelião declarada contra os princípios e valores bíblicos. Demonstrando uma falsa promessa de liberdade em viver e compreender o corpo fora de Deus, quando nós somente nos compreendemos de maneira integral quando conhecemos à Deus, porque Ele nos criou e conhece nosso ser por inteiro.


Conclusão

A vida humana não pode ser reduzida em apenas uma forma de obter conhecimento. A educação somática propõe uma forma apóstata, mas ainda sim, religiosa. Ainda que neste campo se articule a ideia que não existe pressupostos religiosos. Para este campo, a partir da prática somática, o indivíduo torna as relações humanas mais significativas entre outras propostas que ela lançou. A proposta da educação somática enxerga a vida por um único aspecto da realidade: a experiência como única forma de adquirir conhecimentos. A sabedoria hebraica enxerga a vida, a realidade como integral, plena com a multiforme graça de Deus para adquirirmos o conhecimento dado por Ele a nós de multiformas.


É uma promessa falsa de autonomia e liberdade fora de Deus, como foi exposto. Não há liberdade fora do Criador. O alerta para artistas, bailarinos e professores de dança cristãos é: Nosso apoio deve estar na sabedoria orientada pelo cânon. Que Deus nos abençoe com ela, para discernirmos as propostas apóstatas na dança e em todas as esferas da vida. Abraçando-a, pois vem do alto: “Primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia” (Tiago 3: 13 – 17). Assim como em Daniel 2:20–21, declaro: “Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade, porque dele são a sabedoria e a força; E ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos inteligentes”.




Referências bibliográficas


BÍBLIA SAGRADA. Versículos de Descanso. Disponível em: https://www.bibliaon.com/descanso/. Acesso em: 02 jan. 2022.


BÍBLIA SAGRADA. Almeida Corrigida Fiel. Bíblia Online. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf/. Acesso em: 02 jan. 2022.


DOOYEWEERD, Herman. No Crepúsculo do Pensamento Ocidental: Estudo sobre a pretensa autonomia do pensamento filosófico. Monergismo Editora. 2017. 276 p.


DULCI, Pedro. O Progresso da Revelação da Sabedoria e do Sábio do Antigo Testamento. Plataforma Hub. 2022. 1 vídeo (45:24). Aula 1.4 Tutoria Filosófica. Invisible College.


EDDY, Martha. Uma breve história das práticas somáticas e da dança: desenvolvimento histórico do campo da educação somática e suas relações com a dança. 2018. 37 p. Artigo. Repertório, Salvador, 2018.


FILOSOFIA BÍBLICA E SUAS IMPLICAÇÔES. Locução de Rodrigo Bibo, Marcelo Cabral, Victor Fontana e Igor Sabino. BiboTalk, 22 set. 2021. Podcast. Disponível em: https://bibotalk.com/podcast/filosofia-biblica-btcast-abc2-033/. Acesso em: 09 jan. 2022.


FORTIN, Sylvie; LONG, Warninck. Percebendo no ensino e na aprendizagem de técnicas de dança contemporânea. 2005, 22 p. Artigo. Movimento. Escola de Educação Física, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.


LÍNDEZ, José Vílchez. Sabedoria e sábios em Israel. Tradução: José Benedito Alves 3.ed. São Paulo, SP. Edições Loyola, 1999. 268 p.


WON, Paulo. A Escola do Messias (feat. Igor Miguel). EPO35 Podcast Com texto. Canal Paulo Won. 2021. 1 vídeo (1:09:13). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4yTQF5LutSA.


* Este ensaio filosófico foi produzido na Tutoria Filosófica, no Instituto Educacional Invisible College, no mês de Janeiro de 2022.


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