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Como você estará quando tudo isso terminar?

Compartilho com você o texto de autoria de meu professor PhD em Filosofia, Pedro Dulci.

Foto: Acervo pessoal. Parque do Utinga em Belém/Pará.


"Não podemos ser ingênuos diante das notícias catastróficas na saúde, na economia e na política. Imaginar que um dia tudo isso vai acabar e poderemos reconstruir nossa vida normalmente é uma ilusão. Se não nos concentramos verdadeiramente no que significa a genuína renovação, vamos reproduzir os mesmos vícios que produziram as catástrofes que estamos experimentando. . Me lembro de Dooyeweerd, escrevendo Raízes da Cultura Ocidental em 1959, cujo título original era Renovação e Reflexão. Ele diz que a palavra renovação era ouvida em toda parte após o fim da Segunda Guerra. O interesse de todos era a reconstrução da vida no Ocidente partir dos escombros e das ruínas do conflito mundial. . Entretanto, ele diz que a forma com que muitas pessoas usavam os termos renovação e restauração “obliterava, muitas vezes, qualquer tentativa de reflexão acerca dos fundamentos e direções que a busca por uma renovação deveria tomar”. . Ele cita um exemplo que pode nos dar dimensão do que estava pensando: “a maneira pela qual esse movimento dito progressista reivindicava que poderia solucionar a ‘antítese’ em todo seu sentido para a vida temporal, existia urgentemente uma renovada reflexão acerca do sentido e objetivo dos motivos básicos que têm controlado nossa cultural ocidental no seu desenvolvimento histórico” (Raízes da cultura ocidental, p. 11). . O motivo disso acontecer é que, a revelia do que muitos pensam, as esperanças em um falso deus não são fáceis de mudar. Brian Walsh e Richard Middleton nos ensinam que: “as cosmovisões não são abaladas com facilidade. Sua natureza religiosa as torna resistentes a quaisquer formas de oposição” (A visão Transformadora, p. 120). . É ingenuidade da nossa parte pensar que uma pandemia, seguida de uma crise econômica e política seriam suficientes para arranhar a visão de mundo seculariza que domina nossa cultura. Nem mesmo a depressão dos anos de 1930 teve esse efeito. Tudo é visto como um infeliz acidente, mas que pode ser consertado com alguns ajustes — fazendo o possível na quarentena, ajustando os gastos públicos ou até mesmo mudando os representantes políticos. . Não se engane. Os falsos deuses nunca estão satisfeitos. Eles sempre querem mais sacrifícios e, por isso, podemos sair pior do que entramos nesse isolamento social. . A crise em que estamos é de cunho espiritual. Não esse sentimentalismo religioso que vendem por aí, mas as raízes espirituais do ser humano. A reflexão sobre a renovação de um período na história de um povo passa, necessariamente, pelo discernimento e a conscientização quanto ao significado central de nossos corações. . Aquilo que você ama vai ditar a forma como você sairá desse período sombrio. Foi porque subestimamos as formas não cristãs de conduzir a vida que hoje estamos sendo engolidos no altar de falsos deuses. Ou ainda, conforme colocam Walsh e Middleton, “a sociedade moderna não pode continuar a se opor aos sacrifícios que os deuses requerem, nem podem os deuses livrá-la com suas promessas de boa vida” (A visão Transformadora, p. 122)".


Pedro Dulci, é o autor deste texto, escrito em abril de 2020, e disponibilizado para nós, seus alunos para compartilharmos. Ele é meu professor no Instituto Educacional Invisible College, PhD em Filosofia pela UFG, com pesquisa em Ética e Filosofia Política contemporânea.

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